“Parece haver uma imagem pública de qualquer cidade que é a sobreposição de muitas imagens individuais. Ou talvez exista uma série de imagens públicas, cada qual criada por um número significativo de cidadãos.” – Kevin Lynch
A partir desta observação, Kevin Lynch, em seu livro “A imagem da cidade” (1960), inicia uma análise em torno de quais seriam os elementos constituintes daquilo que considera como imagem da cidade. Ao apresentar, descrever e exemplificar estes elementos como objetos físicos perceptíveis, Lynch pondera que outros fatores não físicos como a memória, a função e o próprio nome da cidade também atuam significativamente na construção dessa(s) imagem(ns).
Enquanto um conjunto de elementos, é impossível que sejam dissociados e aplicados de forma exclusiva para uma situação específica nas cidades. Isto é, a Place Charles-de-Gaulle, em Paris, por exemplo, onde está localizado o Arco do Triunfo, poderia ser ao mesmo tempo ponto nodal e marco visual, assim como o relevo montanhoso nos arredores de Antofagasta, no Chile, pode ser considerado tanto um limite e como um marco. Ou seja, nenhum dos elementos propostos por Lynch existe de forma isolada em uma situação concreta e, portanto, o autor conclui que apesar da sua análise se iniciar pela diferenciação e categorização de dados, deve concluir com a sua “reintegração à imagem total”.
Os elementos constituintes da imagem da cidade também podem ser reconhecidos e interpretados de diferentes maneiras a depender do observador e do contexto em que são analisados. Assim, as imagens aéreas apresentadas a seguir para ilustrar os cinco elementos constituintes da imagem da cidade propostos por Lynch revelam uma categorização mutável, interrelacionada e associada a um ponto de vista específico.
Vias
Lynch descreve as vias como os “canais de circulação ao longo dos quais o observador se locomove de modo habitual, ocasional ou potencial”. Estes canais podem, portanto, ser não só ruas, alamedas e avenidas, mas também vias aquáticas, ferrovias e qualquer outro meio utilizado para circulação nas cidades. As fotografias aéreas da cidade de Bruxelas (Bélgica) e do subúrbio de Dagenham (Inglaterra) revelam as diferenças nas conformações das suas vias.
Limites
Os limites seriam a quebra da continuidade de determinada área, fronteiras (penetráveis ou não) que determinam uma diferença entre localidades, mas também a relação entre elas. Neste sentido, podem ser considerados limites os muros, paredes, corpos d’água, ferrovias, etc. Dois exemplos distintos de limites são os muros ao redor de Lucca, na Itália, e os limites constituídos tanto pelo relevo montanhoso como pelo litoral na cidade de Antofagasta, no Chile.
Bairros
Determinados por suas extensões bidimensionais, os bairros se configuram como uma divisão formal muito recorrente das áreas da cidade. Estes agrupamentos, orientados pela região que ocupam, mas também por um ou mais critérios obtidos a partir de suas características comuns, são base referencial para muitas cidades. Na região central de Madri (Espanha) é possível perceber os diferentes bairros a partir das mudanças nas dimensões dos lotes e no traçado das vias, assim como na região central da cidade de Thessaloniki (Grécia), onde, após um grande incêndio ter destruído grande parte da cidade em 1917, houve uma reconstrução do traçado a partir de um desenho mais geométrico e ordenado.
Pontos nodais
Junções, cruzamentos e convergências de vias e momentos de passagem de uma estrutura para outra são alguns dos exemplos citados por Lynch como pontos nodais nas cidades. Apesar desses exemplos sempre remeterem à ideia de movimento, o autor afirma que os pontos nodais podem ter natureza tanto de conexões como de concentrações, como é o caso dos pontos de encontro em esquinas e praças. Essas características ficam claras ao observar tanto a imagem aérea de La Plata, na Argentina, como a da Plaça de Tetuan, em Barcelona (Espanha), pois ambas retratam pontos nodais conformados pelo cruzamento de vias e presença de praças.
Marcos
Como pontos de referência externos, os marcos visuais se distinguem dos pontos nodais por não serem penetráveis. Ainda que o marco possa ser um edifício e, portanto, ser possível ser acessado, é utilizado pelo observador apenas como referência visual externa. Os marcos podem ter menores ou maiores escalas, podendo variar de pequenas placas de sinalização a torres, montanhas, ou até mesmo o Sol. Dois exemplos de marcos muito conhecidos são a Estátua da Liberdade, em Nova York (Estados Unidos) e as Torres Asinelli e Garisenda, em Bolonha (Itália).